As sequelas da greve dos médicos em Moçambique
Foram mais de quatro semanas de muito sofrimento e as sequelas são irreparáveis. Quem poderá repor as vidas perdidas? Jamais serão repostas.
O grito dos médicos é legítimo, as condições nas quais
eles trabalham estão longe de ser compensadas pelo salário que aferem, mas a
questão principal é: como é feito o grito?
- Será passem por cima de quem for preciso para alcançarem os seua objectivos?
- Será que vidas devem ser sacrificadas para que a situação financeira do médico seja a desejada? E depois do objectivo alcançado, serão concertados os danos? Sendo Moçambique um país africano (onde reina também a magia negra), existirá uma forma de trazer de volta os que terão partido? Tudo indica que o médico não está preocupado com as consequências das suas acções, pelo menos não com todas.
Atribuo total legitimidade a greve dos médicos, somos
livres para lutar pelos nossos direitos, mas será que paralisando as
actividades estarão a pressionar o governo? Não é meu objectivo atacar qualquer
que seja o grupo envolvido nesta greve, mas quem são os membros do governo que
frequentam os hospitais públicos? No fundo, não é o governo que sai-se lesado,
mas sim o cidadão ordinário que precisa dos serviços públicos de saúde.
O governo não é directamente afectado pela greve, os
serviços de saúde para este grupo, serão sempre garantidos, isto porque não
dependem dos serviços internos do país.
Como sempre, sobra para a população, que depois de
resolvida a situação entre os “nobres” profissionais e o governo, terá
as cicatrizes da greve estampadas nas suas vidas para sempre!
Onde estão a ética e a moral do nobre profissional? Que
abandona o seu doente pensando estar a pressionar um grupo que em nenhum
momento é lesado; que usa o seu paciente para chantagear o governo: “enquanto o
governo não faz o que queremos, não cuidamos de nenhum doente”; que cai no
egoísmo de colocar vidas em risco (até mesmo de perdê-las) por um aumento
salarial (de 100%).
Questiono a actual nobreza da profissão e sugiro que os
médicos vindouros encontrem outras formas de clamar pelos seus direitos,
respeitando sempre os princípios de ética e moral que regem esta profissão,
respeitando vidas! Do contrário,
desista da profissão o mais rápido possível.
Mudança de comportamento por parte dos médicos
Parou a greve! Apesar do salário não ter registado nenhum
aumento, os médicos voltaram aos seus postos de trabalho, segundo eles, a
mudança de atitude deve-se aos incansáveis apelos da população, a qual clamava
por “socorro”. Para a alegria dos cidadãos, voltamos a ter assistência médica.
Contudo, nem tudo está resolvido. Os médicos fizeram
menção a qualidade do trabalho levado a cabo por um profissional desmotivado,
frisando a existência de consequências (negativas) que advém da desmotivação. A
motivação é que garante a qualidade de qualquer trabalho, isto porque o
profissional motivado busca constantemente a perfeição, procura fazer o seu
trabalho da melhor forma possível.
Como serão os serviços de saúde de hoje em diante? Mesmo
sem saber quais são as consequências que poderão advir da desmotivação dos
médicos, algo avanço: a população poderá senti-las na pele!
Será que aproxima-se a era do “salve-se quem puder”!?